07/01/2009

UMA BREVE HISTÓRIA DA AMÉRICA ~ POR R. CRUMB/ UMA BREVE HISTÓRIA DO MODERNISMO ~ POR LE CORBUSIER

Uma Breve História da América de R. Crumb foi publicada na Comic Book BLUES, editada aqui pela editora Conrad. Segundo o autor, esse retrato da paisagem que se sobrepõe a outras tem a seguinte relevância:

"Desde a escola, sou fascinado pela maneira como a paisagem americana constantemente muda e é remodelada. Na América nada permanece igual por muito tempo. Nuca houve realmente, um respeito pelos prédios antigos.
(...)
Desenhar "Uma Breve História ..." é um pouco uma tentativa de preservar a memória cultural. Há um desejo manifesto de continuidade, de resistência a essa incessante mutação sem sentido.”

"E AGORA?" que encerra a narrativa são diversas perguntas que cobram a tal continuidade que o autor enseja. Essa cultura "America" é herança de um progressismo modernista que visava se dissociar de uma Europa aristocrática, provinciana. Dentro do urbanismo, o maior exemplar dessa cultura é Plano Voisin de Le Corbusier para 3 milhões de habitantes a partir da remodelação do centro de Paris, cabendo a preservação de alguns edifícios históricos emblemáticos e a estruturação de zoning.

Plano para a Ville Radieuse exprime o ideário de salubridade urbana modernista de Le Corbusier: Sol, Espaço e Vegetação..., e claro o automóvel. O todo do plano visava atingir um modo de ocuapação urbana atraves de proporções ideais, ponderadas pelo zoning, onde os fluxos e os usos seriam definidos já na estrutura urbana.
Sobre essa questão, o automóvel, ou melhor a rua, é legada ao fluxo de veículos e as pessoas seriam levadas a se socializarem nos parques entre blocos, numa inspiração a vida comunitária, no "regresso ao campo" por quadras ajardinadas, as quais Corbusier chama de "rua contemporânea".

Maquete e perspectiva - Plano Voisin

Paris segundo o traçado de Haussmann

Essa utopia das supertorres conjugado à supervias, a qual marcaria o fim da tradicional paisagem parisiense de Haussmann é considerado por muitos urbanistas um atentado cultural, mas foi modelo para Brasília de Lúcio Costa, que em suma, legava por seu antecessor, ou seja, era símbolo de um progressismo. Talvez o maior erro desse legado seja não ter considerado "E AGORA?", torno-se uma cidade cuja paisagem ficou estática..., sem continuidade, cidade imposta.
Dentro do plano de Brasília, as superquadras são o marco mais característico e que tem referência na "rua contemporânea" de Corbusier, porém, ela nega a tradição da esquina como marco urbano na cultura brasileira, visto que na MPB teve o Clube da Esquina, justamente por ser a esquina o ponto de encontro de músicos mineiros na década de 60/70.

Quatro superquadras de Brasília formando uma Unidade de Vizinhança. Fonte: Barcellos (1999:88).

Não se trata de criticar o ideário modernista apenas, pois é relevante o modo que essa corrente pensar a cidade, mas impor essas idéias sem considerar tradições culturais é banalizar o modo de vida das populações urbanas. Logo, a tradição como sinaliza Crumb em sua HQ é tão bela quanto qualquer disco voador, se é que vocês me entendem.

No Vitruvius, tem um texto que trata justamente dessa discussão: Cidade moderna sobre cidade tradicional: conflitos e potencialidades, também vale ler: UNIDADE DE VIZINHANÇA:NOTAS SOBRE SUA ORIGEM, DESENVOLVIMENTO E INTRODUÇÃO NO BRASIL, no site da UNB. Dessa forma, tire suas próprias conclusões.

Um comentário:

Sr. Arquiteto disse...
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